quarta-feira, 7 de maio de 2014

Aprendendo em Berlim

Meus mui estimados leitores,

Continuando com a minha escrita que sofre de parca assiduidade, venho contar-vos o que andei a fazer nas duas primeiras semanas do passado mês de Setembro.


Para dar continuidade à minha recentemente descoberta paixão pela produção cervejeira, decidi juntar-me a uma espécie de curso/seminário/coisa que decorre anualmente em Berlim, no VLB (um instituto dedicado à investigação e ensino do fabrico de cerveja, com ligações a várias entidades, entre as quais a Universidade Técnica de Berlim).

O curso, denominado Craft Brewing in Practice, procura cobrir as diferentes matérias teóricas relativas ao fabrico de cerveja, mais direccionadas a quem pretende abrir uma micro-cervejaria ou algo do género, incluindo também alguma prática. Sendo apenas de duas semanas, nunca poderia ser considerado um curso a sério, mas deu para aprender umas coisas, e principalmente para ter uma ideia de como tudo se processa num ambiente que nunca poderia replicar na minha pico-cervejaria caseira.

Os pouco mais de 20 participantes foram divididos em dois grupos para a parte prática. Para aguçar o apetite, logo no primeiro dia o meu grupo começou por fazer o que todos queriam, cerveja. Participámos no brew day, na cervejaria-piloto (capaz de produzir, penso eu, cerca de 250L), acompanhando todo o processo. A cerveja resultante seria servida na festa de despedida, no final das duas semanas. Entre algum trabalho físico, perguntas e respostas, e provas de cervejas de sessões anteriores, foi uma óptima forma de começar e ganhar ânimo para a teoria que se seguiria.















O segundo dia foi passado no laboratório, onde tomámos conhecimento dos diferentes testes de qualidade a que são submetidos os ingredientes e o produto nas suas diferentes fases de produção.




O resto do tempo, durante a primeira semana, foi passado entre aulas teóricas e confraternização com os colegas, com quem me desloquei a diversos locais nas redondezas onde servissem boa cerveja. Foi a primeira vez que me encontrei num grupo deste tamanho de geeks de cerveja. Normalmente o que acontece quando estou num pub com amigos é que começo a falar sobre cerveja, a explicar algumas das suas características ou as diferenças entre vários estilos, até que eventualmente o interesse se desvanece.

Num grupo de geeks de cerveja isso nunca acontece. Foi a primeira vez que finalmente pude falar sobre cerveja durante horas seguidas, para além de a degustar.

Foi possível ainda estar presente no convívio semanal da associação dos cervejeiros da cidade, na qual pessoal e estudantes do VLB também participam, e que eventualmente se prolonga até horas tardias, sempre bem regado com cervejas da casa.

Tivemos a oportunidade inclusive de descobrir uma cervejaria antiga que se encontra fechada de momento, com o velho equipamento a proporcionar belos momentos de contemplação.



 












Durante o fim-de-semana foi tempo de descansar um pouco da cerveja e dar uma vista de olhos à cidade propriamente dita.
Pude então dedicar algum tempo a perceber a história da cidade e, inevitavelmente, do muro que só há pouco mais de duas décadas foi derrubado.
























































Na segunda semana continuou a enxurrada de informação, quase sempre bastante interessante e útil, mas em quantidades deveras pesadas.

Mas os dias teóricos foram intercalados, desta vez, com visitas a cervejarias na zona de Berlim e arredores. Numa dessas visitas estivemos presentes no brew day, o que constituiu mais uma bela oportunidade de estar perto da acção. A outra visita foi à verdadeira cervejaria de sonho. O dono comprou um edifício antigo nas margens de um lago em ruínas e reconstruiu-o como uma cervejaria/pub. Boa cerveja num local verdadeiramente fantástico, em Potsdam, nos arredores de Berlim.










































Já no final da semana decorreu um festival de cerveja artesanal na cidade, onde obviamente nos vimos obrigados a testar e avaliar diversas cervejas locais. Acabámos por aparecer, inadvertidamente, no vídeo promocional do festival, quando este ainda estava a começar. Foi uma boa ideia filmar no início, caso contrário já não estaríamos tão estáveis.


Foram duas semanas muito bem passadas numa cidade de que gostei bastante.


O curso valeu a pena, mas é realmente bastante direccionado para quem pretende abrir um negócio e nitidamente mais útil neste caso, no qual o preço elevado faz mais sentido.

Trouxe de lá muita informação, mas isso é algo que se poderia arranjar de outras formas. Tendo em conta o tempo limitado, acaba por ser uma torrente de conhecimento difícil de apreender tão depressa, portanto é mais um coleccionar de informação para mais tarde utilizar e aprofundar. O que é facilitado com este curso é a obtenção de alguns contactos, já que se acaba por conhecer pessoalmente um número razoável de especialistas nas mais diversas áreas dentro da produção de cerveja.

No VLB também se pode tirar um curso mais a sério, mas isso já envolve um investimento que faz mais sentido para a formação de pessoal que já trabalha na área e sente necessidade de aprofundar o conhecimento.

O que acabou por se calhar valer tanto como o curso em si foi o grupo que ali se formou e que ajudará certamente quem pretenda passar para o próximo nível. A maior parte dos colegas que ali conheci são cervejeiros caseiros como eu, alguns com planos já bem definidos quanto a abrir um negócio - uns quantos já o fizeram entretanto -, mais alguns com esse sonho, e ainda outros com a certeza de que não darão esse passo. Mas o facto de alargar os contactos através deste interesse comum já foi uma enorme mais-valia que trouxe do tempo em Berlim.





Prost!

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